Treguendas

Treguenda: versão italiana do Sabá das Bruxas.


A Roda Óctupla do Ano *(Hemisfério Norte)


O ano rural era muito importante para a sociedade agrária da antiga Roma, bem como para os fazendeiros italianos da idade Média. Os antigos romanos faziam festivais de um tipo ou outro a cada mês do ano e, portanto, é fácil encontrar uma celebração similar ocorrendo nas mesmas datas dos modernos festivais da Wicca. Sendo uma sociedade rural, os fazendeiros romanos estavam bem conscientes dos equinócios e solstícios e do lugar que ocupavam na Roda do Ano. Sua importância também pode ser notada no Culto de Mistério Eleusino grego e romano. Os ritos dos Mistérios Eleusinos Menores eram celebrados no equinócio de primavera e os Grandes Mistérios eram celebrados no equinócio de outono. O foco destes ritos era a descida da Deusa ao Submundo e sua subida na primavera.


Assim como não temos documentação histórica a indicar que qualquer seita específica dos celtas celebrasse os oito Sabás dentro de qualquer culto específico, também acontece o mesmo com as tradições italianas. Sabemos que os temas básicos de cada Sabá são nativos dos festivais egeu-mediterrâneos que ocorriam na mesma época do ano que os festivais norte-europeus. Um estudo simples dos festivais gregos e romanos demonstra isto facilmente. Para obter uma visão geral dos antigos festivais italianos, originários das influências etruscas e romanas na Itália, vejamos os festivais anuais da Wicca e notemos a contrapartida itálica.



SAMHAIN (31 de outubro / 1° de novembro)



Na tradição italiana, esta ocasião é chamada SHADOWFEST (Festa da Sombra). De acordo com a tradição italiana, os mortos retornam ao mundo humano, começando na noite da véspera de novembro e continuando até a segunda noite (três noites ao todo). Na Sicília, é costume colocar um lugar extra na mesa para o retorno dos parentes falecidos. As famílias sicilianas também costumam fazer um banquete no túmulo da família no dia 2 de novembro para honrar seus mortos. Durante a época do Império Romano, os primitivos italianos associavam a planta da fava aos mortos, devido à única mancha negra numa pétala perfeitamente branca. Os romanos serviam feijões de fava em banquetes funerais, honrando a conexão entre os mortos e a fava. Essa associação permaneceu numa parte da Bruxaria Italiana através dos séculos; a sopa de feijão de fava ainda é uma refeição tradicional, servida na véspera de novembro. Uma tigela de sopa de feijão de fava é colocada do lado de fora da casa à meia-noite, como oferenda aos espíritos, e depois é enterrada após o nascer do sol do dia 1º de novembro. Na Itália do século X, monges cristãos, procurando um modo de assimilar essa celebração pagã, decidiram cozinhar grandes porções de sopa de feijão de fava e oferecê-las às almas dos mortos; camponeses famintos se deliciavam com os tonéis de sopa de feijão de fava que os monges colocavam nas esquinas. A Igreja permitiu que esta prática funcionasse devido à oportunidade de conversão, mas só à partir do século XV a Igreja oficialmente adotou o dia da celebração, 1° de novembro, chamando-o Ognissanti ou “Dia de Todos os Santos” e o 2 de novembro foi designado “Dia de Finados”. Na Itália de hoje, os celebrantes ainda comem docinhos de festa chamados ossi da morto (ossos do morto) e favei dei morte (favas dos mortos), doces parecidos com biscoitos, mas modelados na forma de esqueletos e feijões de fava. Na Sicília, pães rituais especiais são feitos no formato de um cadáver deitado para descansar, junto com figuras de açúcar na forma de heróis tradicionais e personagens do passado da Itália.



SOLSTÍCIO DE INVERNO (21 de dezembro)



Dezembro era marcado por festivais ao Deus Solar Sol e ao Deus Agricultor Saturno. A íntima conexão entre o sol e o crescimento da plantação pedia uma invocação de ambos os aspectos da deidade.



IMBOLG / CANDLEMAS (fevereiro)



Na tradição italiana esta época é chamada Luperco. Na Wicca gardneriana é o tempo da purificação. O mês de fevereiro era consagrado ao Deus Romano Februus, que era um Deus de Purificação e Morte. Os ritos de purificação da Lupercalia também eram celebrados em fevereiro.



EQUINÓCIO DE PRIMAVERA (21 de março)



Na antiga Roma, o festival de Marte, celebrando seu aspecto original de deidade rural, tinha lugar de 19 a 22 de março. Março também era a época do festival de Libéria, também conhecida como Prosérpina (Perséfone), que era, entre outras coisas, a Deusa da Primavera, cuja ascensão ao submundo era marcada por rituais realizados nos Mistérios Eleusinos no equinócio de primavera. O antigo Culto Romano de Mistério em Pompéia é um bom exemplo da antiguidade desta tradição na Itália.



BELTANE/ DIA DE MAIO (30 de abril / 1° de maio)



Na tradição italiana, esta época é chamada Dia da Deusa, tomando o nome de qualquer deusa que um grupo cultuasse: por exemplo, o Dia de Tana, na tradição tanárrica. O mês de maio era marcado por festivais de primavera de Florália. Flora era a Deusa Romana dos Jardins e das Flores; suas celebrações de primavera duravam uma semana e culminavam em 1º de maio, com um grande festival para marcar a ocasião. Na antiga religião romana, Maia, a Deusa da Primavera, era cultuada em celebrações que ocorriam no seu sagrado mês de maio.



SOLSTÍCIO DE VERÃO (22 de junho)



No dia 20 de junho acontecia na antiga Roma o festival de Sumano. Sumano era uma deidade rural, possivelmente de origem Sabina, associada à fertilidade e à prosperidade. Na tradição celta, esta era a época do Rei Divino, que derrotava o Rei do Carvalho em combate ritual. Os poderes da luz e das trevas combatem pelos períodos de fartura e escassez da natureza. Isso se assemelha à seita italiana Benandanti, que nesta época do ano realizava batalhas rituais pelo resultado da próxima colheita. O festival romano de Vesta acontecia em junho. Vesta era a Deusa da Lareira e do Fogo Sagrado; os Lare (deuses antepassados) estavam sob o seu domínio. Eles eram originalmente espíritos dos campos cultivados, derivados dos Lasa etruscos, os espíritos dos campos e prados. Os Lasa são idênticos aos antigos conceitos de fadas em toda a Europa. O festival de Pleno Verão está ligado às fadas e aos tempos mágicos. No festival romano de Vesta e seus Lare, vemos o tema da Rainha das Fadas na véspera do Pleno Verão.



LUGHNASADH / LAMMAS (31 de julho / 1° de agosto)


O festival de Ops acontecia em agosto. Ops era a Deusa da Fertilidade, das Forças Criativas e das Energias Telúricas. Ela era esposa de Saturno, o Deus Romano da Agricultura, e desse modo temos a associação com a colheita. Na mitologia romana ela era identificada com a Deusa Fauna/Fátua, a deidade responsável pela abundância da vida vegetal e animal.



EQUINÓCIO DE OUTONO (21 de setembro)


Nos ritos eleusinos dos cultos gregos e romanos, esta era a época da descida da Deusa para o Submundo. Os mistérios de morte e renascimento eram temas ritualizados que ocorriam tanto na Grécia quanto na Roma antigas, durante esta estação.


Parágrafos do livro Bruxaria Hereditária, Segredos da Antiga Religião – de Raven Grimassi.

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